sexta-feira, 17 de julho de 2009

Por que amo meus professores



Amo meus professores, até os que me fizeram sofrer, tanto os da escola, do mundo acadêmico, mas principalmente os da dança. Uma delas, hoje até famosinha na mídia, que me deu experiência de palco e me mostrou que eu era capaz de dançar, foi a que mais me fez comer o pão que o diabo amassou, mas sou grata a ela assim mesmo, porque o melhor nem sempre é passar a mão na cabeça da pessoa pra que ela melhore, no entanto isso me serviu de modelo de pessoa da qual eu devo me afastar assim que tomo nota da semelhança de atitudes. Aff, ninguém precisa sofrer tanto pra fazer uma coisa de que gosta. Tenho medo de coreógrafos que gritam tipo bravos. Não é só em filmes como Chorus Line e outros que eles existem. Estão por toda a parte. Sempre que tem ensaio geral de escolas cada vez que escuto um gritão de professor de outros grupos estremeço toda na cadeira como se fosse comigo. Aff! Ninguém merece! Mãs... comecei este post para falar bem dos mestres e não é que estou fazendo justamente o contrário?! Vamos lá, o professor em geral é um sujeito esforçado, ganha pouco, isso todo mundo sabe. Sei porque já dei aulas, tudo bem que era de redação e literatura, mas a realidade é parecida. Gasta-se muito tempo preparando as aulas, lida-se com as dificuldades alheias, em certos casos há que se tirar água de pedra e não é possível agradar a gregos e troianos. Claro que há compensações, a gente se envolve, há bons retornos, etc., mas o(a) professor(a) de dança tem de lidar com tantas variáveis: é o ego dos outros, o dele próprio, como é o caso de professoras que amam dançar e acham que é um favor tremendo estar perdendo os minutos preciosos do tempo delas com toscas iniciantes, que todo aluno iniciante em geral é tosquinho mesmo, assim como igualmente o são as coreografias desse nível, mas isso faz parte do show, o que é que se vai fazer? Perseverar mais um ano ou dois para subir mais um degrauzinho. Já tive também uma professora assim. Mas achava ela tão bonita, tão bonita e tinha uns braços flamencos maravilhosos que eu adorava admirar.
Além disso, as profs têm de ser maquiadoras, consultoras de moda, figurinistas, produtoras de shows, psicólogas-babás, consultoras sentimentais, fotógrafas, e ouvir cada pergunta, mas cada pergunta, que não sei de onde sai tanta falta de bom senso. É claro que o professor está na classe para responder questões teóricas sobre as quais supostamente ele deve ter conhecimento, mas não dá para bombardear o coitadinho o tempo todo, afinal também estamos lá para dançarrrr, e depois não custa nada pesquisar um pouco, não é mesmo?
Adoro ser aluna de qualquer coisa. As aulas clássicas daquele tipo em que o sujeito que sabe muito discorre sobre um tema com propriedade na pós eram uma terapia. Ficar ali sentada só absorvendo conhecimento. As aulas de dança são o que preciso para estar viva, para não adoecer, e para um monte de outras coisas úteis e vivificantes. E chova ou faça sol, gripado ou são o professor tem de estar ali. Tem de gostar muito mesmo, por isso amo meu professores. Já me pediram e falaram (leigos totais em dança é claro) pra eu dar aulas de dança no espaço deles x ou y, mas como sou encanada só conseguiria pensar em algo do tipo se fizesse um curso de formação para professores e tirasse DRT. Ai, que preguiça! Não do preparo das aulas em si, que imaginar como seria é até empolgante, mas da responsabilidade enorme que isso envolve. Mais ou menos como ser mãe: As pessoas veem aquela coisa fofa e saltitante e acham uma graça, mas quem não tem filho não imagina o que é o backstage dessa produção. Como bailarina não vou me profissionalizar. Até já pensei sobre, mas acho que não nessas alturas... gosto mesmo é de ser aluna e me apresentar com responsabilidade, mas sem obrigação.

sábado, 4 de julho de 2009

É tempo...


É tempo de recordar quem sou, recomeçando onde parei, na redação sobre o balão de são João e da árvore de natal que caiu sobre o meu irmão. Sonhar vaticínios sobre as águas e outras coisas. Por que parei? Foi porque quis, mas agora quero outra vez. Também pintar a casa, abrir as janelas, caiar os muros. Lavar o chão da cozinha. Secar ervas: manjericão, hortelã, sete-sangrias, para cozinhar e também tomar banhos com elas. Revolver a terra dos vasos, cuidar bem de todas as plantinhas. Transplantar as mudas. Esquecer de deixar tudo arrumado, nunca deixar a casa impecável. Não tentar estar impecável. Estar descabelada ao menos aos domingos. Sorrir para desconhecidos. Dar a mão para alguém e sentir o calor da pele alheia. Abraçar, sentir cheiros. Retomar leituras. Ir a uma festa de casamento familiar e encantar um estranho. Perambular pela casa de madrugada seminua no escuro e espiar a lua da varanda por entre frestas de arranha-céus e pegar ela com as mãos. Acender tranquila o incenso de maçã verde e meditar com meus lobinhos. Caminhar à noite como os lobos. Afiar as garras. Correr perigo. Tomar chuva e arrepiar de frio. Cozinhar e encher a casa, o andar, o prédio e o quarteirão de um cheiro irresistível. Dançar com outras mulheres, dançar muito, em casa, sozinha, até o limite da exaustão. Preparar a roupa e dançar em público. Dançar com alma, com o vento, esquecer da vida enquanto o que mais se faz é viver nesse momento. Cozinhar uma sopa de letras, misturar travessões, pontos e vírgulas e preparar-se para criar um novo mundo em noites menstruadas. Deixar florescer a velha sábia, a jovem obscena e a menina malcriada. Adormecer em sonos de outono e acordar entre folhas douradas.