quinta-feira, 1 de abril de 2010

A prática faz o monge

Depois de praticamente dois meses sem fazer aulas e indo com pouca frequência à academia, deu pra perceber como podemos sim, perder alongamento, agilidade, memória etc. Essas esporádicas férias, inclusive dos treinos em casa, da dança me fazem refletir no quanto a prática faz sim diferença. Mais vale fazer uma aula por semana na correria, meio cansada, fugida dos afazeres domésticos, trabalho, filho, marido e cachorros do que fazer aula nenhuma com a ilusão de que estou descansando um pouquinho e que isso não fará diferença quando eu resolver voltar. Quando volto às aulas reparo que no fundo dou à dança toda a importância do mundo.
Outro dilema que não sei se acorre a muitas praticantes não profissionais: faço aulas só de DV, fora outras modalidades, há no mínimo 6 anos. Tenho vontade de assumir alguma responsabilidade em relação à dança, fazer uma turma avançada, formação pra professora, atender ao convite de uma amiga e passar algum conhecimento que adquiri pra umas amigas dela, uma vez que a minha prof foi pro Líbano, voltou, saiu da escola e agora eu que estava toda acomodada, terei de tomar uma atitude.
Pra não parar, faço aulas com a prof. que veio substituí-la, e que tem um trabalho respeitado apesar de muito jovem.
Ao mesmo tempo, olho todas aquelas roupas de apresentação das quais não quero me desfazer de jeito nenhum. Vou dançar novamente com elas? Aonde? Procurarei trabalho em algum restaurante? Embora me ache bonitona ainda, o povo quererá me assistir se já não sou tão jovem quanto a maioria das meninas do mercado?
Acho que o foco no papel de mãe em tempo integral tomo o lugar da bailarina. E penso que dei um brake por muito muito tempo de dançar mais, assim como parei de escrever. Por isso saem esses textos truncados, escritos às pressas, sem releitura, entre uma solicitação e outra, com vários erros de ortografia e repetição de palavras. É uma constatação, não estou reclamando da maternidade. Foi uma opção e quero fazer o negócio direito, e acho que na maioria das vezes consigo.
Sabem aquela escritora ganhadora de Nobel que escreveu sobre a condição da mulher, a Doris Lessing? Ela abandonou família e dois filhos pequenos porque sabia que não ia conseguir produzir o que tinha de escrever tocando uma família direito, muito menos na época em que vivia. Muito homem faz isso e ninguém dá a menor pelota, acha normal.
Entendo-a perfeitamente. Foi corajosa e fez o que tinha de ser feito.
Não faria o mesmo porque sinto que sou mais mãe do que qualquer outra coisa. E a bailarina para onde irá? E a pessoa que escreve, então?
Esses questionamentos surgiram da aula de véus ao notar que perdi por segundos a consciência corporal. Achava que estava realizando um tipo de movimento com os braços ao aprender um movimento novo, mas na verdade o que fazia era outra coisa...
Tomei isso como positivo, um desafio. Parece que estava tirando uma longa soneca e de repente acordei.

3 comentários:

  1. Segue teu coração!! Se não for pra ser bailarina em restaurante, ser uma boa professora já é um grande mérito. Quanta coincidência, eu também tive que ficar quase dois meses parada por conta de repouso médico. E notei como encurtei, como saí perdendo na dança. E também vivo um momento parecido com o teu: minha professora parou de dar aulas, e se alguém assumir o trabalho... serei eu! Vamos??? ;)
    Beijo

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  2. Oi, Vera. Não te conheço direito ainda, mas te digo que quem faz a realidade somos nós, de verdade. Tem coisas que fazemos por que a sociedade nos julgaria de forma desagradável e temos receio disso. Não sou totalmente alheia a família, mas tive que assumir que sou diferente das outras mulheres neste aspecto, pois meu trabalho com as danças vem em primeiro lugar. Não sou mãe em tempo integral e pelo menos por enquanto, não me arrependi de deixar bem claro quem eu sou e o que eu quero pra mim. O tempo passa e a hora é agora, a dança precisa de dedicação enquanto estivermos aptas para ela. O tempo de bailarina é curto, mesmo. Se você se compromete profissionalmente com dança, como qualquer outro serviço de oito horas por dia, você vai precisar de ajuda para criar seus filhos.
    Eu estipulei um tempo para a dança, como um pacto: são 12 anos de dedicação. Minha filha tem treze e o pequeno, 6. Se este ano a coisa não for exatamente como eu quero, então desisto. Farei o que for preciso, mas quero retorno! Pior é que não tenho me decepcionado...
    Se seu propósito é firme, quem vai derrubá-lo? As pessoas não vão pisar em cima de você, a menos que você se deite. O seu filho estará com você sempre, dedicando-se integralmente ou não. O que importa é a qualidade do tempo a que dedica a ele. Se ao cuidar dele, estiver pensando em dança, ele vai se sentir mais rejeitado do que se estiver ausente, trabalhando. A sua frustração é que vai atingí-lo. A bailarina que está em você é só sua, e perdê-la por causa dos outros é render-se à hipocrisia e ao machismo da sociedade. Me perdoe pelas cruéis e reais palavras. Mas tente saber qual é a sua verdade, não o que esperam que você seja. E lute com coragem!

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  3. Rubi, que surpresa! Obrigada pelo incentivo. Que bom saber que voltou à ativa e bem. Então, o caso é já estou com duas alunas e, por causa delas, pretendo me matricular na turma de formação de professoras da Lulu Sabongi ,ou da Elis Pinheiro, aqui em São Paulo, em vez de fazer o curso regular de dança do ventre. Cuidar do corpo alheio é uma tremenda responsabilidade. Daiane, é reconfortante encontrar eco em pessoas que passam por situação semelhante à nossa. Um dos motivos pelos quais não desisti de dançar é justamente dar à minha filha um exemplo de pessoa que faz coisas que a fazem feliz, vão atrás dos seus objetivos. Não quero passar a ela a ideia de que porque a pessoa é mãe tem de virar uma mocoronga. Mas é claro acaba limitando um pouco a minha disponibilidade para assumir compromissos com apresentações em horários diversos e até de ensaios. Obrigada pelas "cruéis e reais palavras", rsrs. Se pudesse a abraçaria assim chacoalhando, sabe? Sinta-se vitualmente abraçada! Meninas, obrigada mesmo. Esse retorno é muito importante pra mim. Ser menina não é fácil não, né? Vamos em frente!!! Beijos

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