segunda-feira, 7 de junho de 2010

Patadas flamencas - Carmem Amaya



Hoje acordei saudosa do flamenco. E não sabendo muito bem o que fazer com isso, resolvi assistir a um vídeo da Carmem Amaya.

O estilo de dançar de Carmem Amaya (1913-1963) personificava a alma do flamenco, e chegava a ser masculinizado se comparado ao flamenco de Corte, dos bailes, dos movimentos elegantes e estilizados dos shows que costumamos ver atualmente, com muita influência do balé clássico. Gostava de dançar de calças, algo não muito comum para as mulheres de sua época bailarem flamenco. Nas suas apresentações, a técnica era colocada a serviço da paixão pela arte, chegava a ficar fora de si e se descabelar e até perder as peinetas do penteado, possuída por "el duende", nome dado pelos flamencos a uma espécie de transe em que entra o bailarino quando põe toda a emoção ao pisar num tablado. Para atingir esse estado, infelizmente não existe técnica, dizem eles, ou se tem ou não se tem.

Para uma biografia mais completa ver aqui.

João Cabral de Melo Neto, em sua fase espanhola, escreveu sobre ela:

Carmem Amaya, de Triana

As vizinhas diziam todas:
"bendita madre, que bailadora!"

Então botaram-me na escola:
era sevilhanas a toda hora.

Sevilhanas são para as damas,
para as niñas bien, não têm chama.

Aprendem-nas para na Feira
dançá-las entre si nas casetas.

Dançá-las dentro das famílias
como na Feira de Abril, em Sevilha.

"Nunca pensei em ser dama, não:
pois toquei fogo na lição."

Dançar não é coisa aprendida,
mas o aprender-se cada dia.

Assim é que entendo a lição;
sabê-la, mas segui-la, não.

Fugir do que ela faz de gesso,
dançá-la, mas sempre do avesso.

Tinha então de ganhar a vida,
e como eu, mais de mil havia.

Onde ir buscar esse sotaque
que entre dez mil me destacasse

e fizesse dizer: - Eis a Amaya,
eis seu bailado, vivo e em chaga."

"Fui numa tarde à Maestranza,
vi Pepe Luís (toureio e dança)

com ele aprendi que a morte
é que faz o sotaque mais forte,

e que não traz mal a quem a toque:
pois raro acede a quem a invoque.

Por isso, que pus no baile
a morte e seu arrepiar-se.

Supersticiosa, sou cigana,
vivo muito bem com a tal dama:

Ela faz mais denso o meu gesto
e só virá em meu dia certo."

4 comentários:

  1. E então, Carmen Amaya também é tua paixão? A minha também!! Seguido ela aparece na minha barrinha de vídeo do blog! Depois de uns meses fazendo aula de Flamenco, perguntei pra minha professora quem era a bailaora preferida dela, aquela em quem ela se espelhava. Expliquei pra ela o que significavam para mim Souhair Zaki e Fifi Abdo. E queria saber se ela tinha paixão por alguma Flamenca como eu tenho pelas duas egípcias. A resposta dela foi Carmen Amaya. Eu nunca tinha ouvido falar. Esperava ouvir algo com Antonio Gades, Sara Baras. Eu até então assistia muito Eva la Hyerbabuena, Sara Baras, Antônio Gades, Cristina Hoyos, os filmes do Saura. Cheguei em casa e fui ao youtube. Nossa, foi uma emoção tão grande, ver aquela dança enraizada, aquela Cigana, eu juro pra ti Vera, chorei! Mas chorei em bicas!! E desde então, a parte Flamenca do meu coração é dela. Nem tento entrar no mérito da técnica. Assim como Fifi e Souhair, ela transcendeu a técnica completamente. Ahhh vou parar... senão faço um post no teu blog...
    Amei a poesia, demais (vou copiar... posso?)
    Vou roubar tua idéia de post em breve, e vou escrever sobre ela também!
    Ahh sim! E percebi que vc tá com meu endereço de blog antigo nos teus seguidos. Eu mudei porque o y não faz parte do meu nome, e eu achei brega! Agora é www.rubidancer.blogspot.com
    Beijos!!

    ResponderExcluir
  2. Menina, eu nem lembrava que era a mesma pessoa. Faz tanto tempo... Mas de qualquer forma adoro seus blogs! Me diverti aqui lendo seus posts! Que bom “revê-la”. (RS) Beijos!

    ResponderExcluir
  3. Oi, Rubi! Agora percebi o erro no endereço do seu blog! Então vc pode copiar a poesia e escrever um post sobre ela à vontade, imagina, esses dois são patrimônio da humanidade e merecem ser muito divulgados pelo mundo afora. Vou ficar no aguardo do seu post. Beijos.

    ResponderExcluir
  4. Aina... faz muito tempo mesmo, não é? Fico feliz em revê-la e com blog novo também! Beijos!

    ResponderExcluir