sábado, 2 de maio de 2009

O segredo do grão



Assisti semana passada a um filme que enfoca relações familiares e de amizade em uma família francesa de origem árabe. Tudo bem que é de 2007 e muitos já devem ter visto, mas minha natureza é lenta e depois que virei mãe fiquei mesmo desatualizada em relação à indústria cultural no mundo, pelo menos a adulta, ha, ha. Dirigido pelo tunisiano Abdellatif Kechiche, o filme é premiado com quatro Césars, uma espécie de Oscar francês. Sempre dei mais atenção ao que os supostos inteligentes franceses pensam sobra as coisas do que os supostos inteligentes americanos, a não ser que esses americanos sejam, por exemplo, o George Clooney (que não sou tão bobinha assim...), o Robert Altman ou o Noah Chomsky, e mais recentemente o Obama. Fui doutrinada a pensar assim na faculdade e as evidências não me levaram até hoje a deduzir o contrário. Tenho preconceito contra o star sistem e a mídia estadunidense, mas é claaaaro que se acontecesse um milagre comigo semelhante ao que ocorreu com a escritora do Harry Poter me venderia rapidinho. Aquela mulher é testemunha de que milagres existem, mas isso renderia outro post: sobre mães em dificuldades, etc. É impressionante a minha capacidade de divagar sobre outros assuntos que rondam o tema principal. Vamos voltar ao que interessa: Por que é legal quem faz DV assistir a O segredo do grão? Porque é bom tentar entender um pouco da cultura na qual se insere uma arte que praticamos, não é mesmo? O filme aborda alguns aspectos da vida dos imigrantes de origem árabe de classe média na França, primeiro a culinária (pensei que ia desvendar o segredo do preparo do famoso cuscuz marroquino, que acaba sendo praticamente uma personagem da história, tal a sua importância no enredo). Segundo, a música, ah, como é emocionante reconhecer algumas que são tocadas pelos músicos de verdade, idosos moradores do mesmo hotel e amigos do protagonista, um aposentado trabalhador das docas, cujo sonho é abrir um restaurante em um barco. Com certeza, ao assistirem ao filme, pessoas que sejam de alguma forma envolvidas com a cultura árabe também reconhecerão a maioria ou pelo menos algumas canções tocadas com instrumentos tradicionais. Terceiro, porque dá para perceber que as relações familiares, ainda que se deem em um país ocidental e em tempos atuais, ainda são permeadas de atitudes machistas. Quarto, a dança do ventre em si, ainda que apareça só no final do filme, de maneira despretensiosa e sem o glamour que cerca os shows a que estamos habituados, é dançada de forma visceral e usada como tentativa de instrumento de salvação. A história mostra personagens semelhantes a pessoas de carne e osso. Todas as emoções e dramaticidade que tentamos sentir nas canções (nós que não sabemos a língua árabe), estão lá: o amor, a mágoa, a raiva, solidão, tristeza, luxúria, solidariedade, alegria, impotência diante dos fatos. Filmado de maneira que em alguns momentos se assemelha a um documentário, o filme é comovente ao extremo, para os que se permitem ainda comover com as mazelas alheias, além das próprias nos dias de hoje.

7 comentários:

  1. Oi Vera,

    Seu comentário sobre o filme me deixou com uma vontade imensa de assisti-lo. Será que o encontro locadoras?
    Beijos
    Vivi

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  2. Sim, Vivi. Peguei em uma locadora pequena, que não é assim uma Blockbuster, aqui perto de casa. Vai ser fácil de achar porque o filme ganhou muitos prêmios. Bjos, Vera.

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  3. Ahan hein!! finalmente voltou a escrever!!!bacana!!!

    bjs
    Claudia

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  4. É, Clau, nos momentos de crise é bom canalizar as energias para coisas produtivas, né? Beijos!

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  5. Adorei a dica, vou procurar logo!!Meu blog também é novinho e não tenho muitos contatos por aqui. Vou lhe seguir! Abraço

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  6. Olá Vera!
    Seu blog também é bastante interessante.
    Claro que pode linkar o meu e o seu.
    Também vou colocar um link de acompanhamento do seu no meu, para ver as atualizações.
    Abraços e prazer em conhecê-la!
    Gamila.

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  7. De fato um excelente filme.
    Segue um link -
    http://www.youtube.com/watch?v=sRjMxRmz-N0

    abçs, Livia.

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